terça-feira, 30 de março de 2010

Fidelidade conjugal - amor com sabor de liberdade

A moça bonita olhou-me com encanto. Ou seria desejo? Estava aberta a possibilidade de uma aventura. Eu disse não ou melhor, renovei o sim que disse à minha esposa em abril de 18 anos atrás.

“Namora bastante antes, para não ficar pulando cerca depois”, aconselhou-me Flávia, minha irmã. De fato, em Roma, no ano antes de começar a namorar a minha esposa, eu namorei bastante. Até que conheci a Anna. Um ano de namoro e, numa manhã de abril, nosso casamento, em Amélia, cidade entre Roma e Florença.

Casei de livre e espontânea vontade. Jurei fidelidade, movido pelo amor, também de livre e espontânea vontade. Ora, faz parte da virtude da honradez cumprir as promessas livremente feitas. Traição é defeito e não qualidade. Defeito de político que trai os eleitores e defeito de quem trai a esposa (ou o marido). Nesses 18 anos, surgiram ocasiões onde minhas promessas públicas de fidelidade conjugal foram testadas. Também para minha esposa foi assim. Nenhuma “cantada”, direta ou indireta, deixa indiferente. Acho que seja normal gostar de ser desejado por outras mulheres além da própria. Porém, ficar navegando no calor sentimentalista da cantada deixa o homem abobalhado e isso não é bom, pois pode comprometer a virtude da honradez e o amor. Quando alguma cantada penetra no coração, comunico a algum amigo verdadeiro, não para me gabar, mas para curar-me do impacto da cantada. Algumas vezes compartilho com minha esposa tal experiência: “Hoje, uma moça me disse assim...”. “E tu? O que fizeste?”, ela pergunta. ”Se eu tivesse feito alguma não estaria conversando contigo sobre o assunto”, respondo.

Tenho muitos amigos e amigas que estão no segundo casamento. E estão muito bem no segundo casamento. Fazem de tudo para não repetir os erros do primeiro. Errar é humano, o que acho coisa de homem sem honra (ou mulher sem honra) é transformar a infidelidade em regra de vida. Fazer da traição da esposa, dos filhos e das filhas e da sociedade o modo normal de viver. Há intelectuais que até inventam teorias estapafúrdias para tentar justificar a própria frouxidão. Trocam de mulher como quem troca de carro e dizem que isso seria liberdade, prazer, felicidade. O que chamam de liberdade significa destruição própria e da comunidade familiar e social. Na verdade, quando casamos, não estamos somente casando, mas constituindo uma família, cuja função é também social e não somente privatista. Os filhos têm direito à fidelidade conjugal de seus pais. Ela não escraviza o coração, mas o protege da superficialidade. Na velhice, certamente não haverá o mesmo sexo da juventude do casamento, mas poderá haver amor. Amar e ser amado, talvez até mais que na juventude do casamento. É por amor que as pessoas se casam e não por sexo. Sexo não é difícil de fazer nem de achar. Amor recíproco é diferente. Quem ama não trai. A fidelidade conjugal não é uma regra do direito, mas uma regra do amor verdadeiro, reconhecida pelo direito. Amor com fidelidade não é uma regra opressiva imposta pelas famílias burguesas e cristãs, como afirmam os teóricos da sacanagem. Amor com fidelidade é uma combinação perfeita, mesmo se difícil, como são todas as coisas boas da vida. Romper tal associação não gera libertação, mas frustração. Há muitas coisas que podem e devem ser revolucionadas na vida social, menos a combinação entre o amor e a fidelidade, conservada com amor, pelo amor que tem sabor de liberdade.

Artigo: Diário Popular - 30 de março de 2010.
Autor: Fábio Régio Bento - sociólogo